Arala Pinto e as Borboletas do Pinhal do Rei
António Arala Pinto (1888-1959) foi, durante a primeira metade do século XX, um dos administradores da 3ª Circunscrição Florestal e um dos maiores investigadores do Pinhal do Rei. A sua obra de 1939, O Pinhal do Rei – Subsídios é, ainda hoje, uma referência no que ao estudo do Pinhal diz respeito.
No segundo volume da referida obra, o autor descreve as borboletas do Pinhal do Rei:
A Ordem Lepidóptera encontra-se particularmente representada na Mata de Leiria por espécies nocturnas que na sua maior parte não foram ainda estudadas.
Citaremos contudo, segundo exemplares que obtivemos no decorrer das nossas pesquisas, as seguintes formas que não representam mais do que um número resumidíssimo das numerosas espécies que sabemos existirem tanto no interior do pinhal como nos outros terrenos. – Acheronthia atropus L. pouco frequente. Observámos um exemplar único obtido em S. Pedro de Moel. Protoparce convolvuli L., pouco frequente; Deilephila auphorbiae L., bastante comum; Macroglossa stellatarum L., pouco comum; Thaumetopoea pityocampa Schiff. (Fig. 62 (35 mm.) e 63 (40 mm.)) a processionária dos pinheiros, muito abundante; Porthesia similis Fuessl. de que as lagartas atacam fortemente os medronheiros vendo-se por tôda a parte os ninhos das colònias hibernantes, nas extremidades dos ramos; Lymantria dispar L. relativamente pouco abundante; Lasiocampa trifolii S. V. (Fig. 64 (45 mm.)) e Saturnia pyri Schiff. pouco frequentes pròpriamente na Mata. Saturnia pavonina L., relativamente comum; obtivemos três exemplares e observámos por mais de uma vez as lagartas. Dos Agrotis, entre outras espécies mencionaremos a pronuba L., segetum Schiff., a Plusia gamma L., e festucae L. Doutras divisões, Catocala Esp. Timandra amata L., Sterrha sacraria L., Abraxes pantaria L. praga dos freixos; Zygaena trifolii Esp., Zeuzera pyrina L. etc. Particularmente os Micro são muito abundantes por todo o Pinhal povoado por uma vegetação densa.
Entre as espécies diurnas temos encontrado e possuímos exemplares tanto do Papilio podalirius feistamelli Dup. como do machaon L. não sendo contudo muito comuns nem uma nem outra destas espécies. Do género Pieris são muito vulgares a bracicae L. e rapae L. nos lugares onde são cultivadas plantas horticolas, sobretudo. Outras espécies do mesmo género freqüentam certamente a Mata.
Obtivemos também exemplares de Euchloe cardimines L., Colias edusa F., Genepteryx rhamini L. e cleopatra L. O Charaxes jasius L. embora sejam tão comuns na Mata os medronheiros onde se desenvolvem as suas lagartas, parece ser relativamente pouco freqüente. Não possuímos ainda nenhum exemplar capturado na região. Também parece não ser comum a Pyrameis atalanta L. mas encontra-se fàcilmente em determinadas regiões da Mata a espécie cardui L. Do género Melitaea, de que devem existir particularmente nas proximidades do viveiro do Tromelgo, das margens do Lis e do Ribeiro de S. Pedro de Moel, várias espécies, possuímos apenas exemplares de phoebe Knoch. Os Satyrideos deve estar sem dúvida largamente representados nesta fauna. São sobretudo abundantes as espécies, Satyrus semela L. e stalilinus Hufn.
Encontra-se ainda com certa freqüência as espécies Lycaena astrarche Bgsrt., Augiades comma L. e várias outras formas.
Resumindo, estruturando e atualizando os dados fornecidos por A. Pinto, teríamos então:
Noturnas
Cossidae:
- Zeuzera pyrina (Linnaeus, 1761)
Erebidae:
- Euproctis similis (Fuessly, 1775)
- Lymantria dispar (Linnaeus, 1758)
Geometridae:
- Abraxas pantaria (Linnaeus, 1767)
- Cyclophora punctaria (Linnaeus, 1758)
- Rhodometra sacraria (Linnaeus, 1767)
Lasiocampidae:
- Lasiocampa trifolii (Denis & Schiffermüller, 1775)
Noctuidae:
- Autographa gamma (Linnaeus, 1758)
- Agrotis segetum (Denis & Schiffermüller, 1775)
- Noctua pronuba (Linnaeus, 1758)
- Plusia festucae (Linnaeus, 1758)
Notodontidae:
- Thaumetopoea pityocampa (Treitschke, 1834)
Saturniidae:
- Saturnia pavonia (Linnaeus, 1758)
- Saturnia pyri (Denis & Schiffermüller, 1775)
Sphingidae:
- Acherontia atropos (Linnaeus, 1758)
- Agrius convolvuli (Linnaeus, 1758)
- Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758)
- Macroglossum stellatarum (Linnaeus, 1758)
Zygaenidae:
- Zygaena trifolii (Esper, 1783)
Diurnas
Hesperiidae:
- Hesperia comma (Linnaeus, 1758)
Lycaenidae:
- Aricia cramera Eschscholtz, 1821
Nymphalidae:
- Charaxes jasius (Linnaeus, 1767)
- Hipparchia semele (Linnaeus, 1758)
- Hipparchia statilinus (Hufnagel, 1766)
- Melitaea phoebe (Denis & Schiffermüller, 1775)
- Vanessa atalanta (Linnaeus, 1758)
- Vanessa cardui (Linnaeus, 1758)
Papilionidae:
- Iphiclides feisthamelii (Duponchel, 1832)
- Papilio machaon Linnaeus, 1758
Pieridae:
- Anthocharis cardamines (Linnaeus, 1758)
- Colias croceus (Fourcroy, 1785)
- Gonepteryx cleopatra (Linnaeus, 1767)
- Gonepteryx rhamni (Linnaeus, 1758)
- Pieris brassicae (Linnaeus, 1758)
- Pieris rapae (Linnaeus, 1758)
Algumas considerações finais
Não é muito fácil, 75 anos depois, avaliar o trabalho de Arala Pinto relativo às borboletas. Desconheço os seus métodos, a sua bibliografia ou mesmo a sua dedicação aos insetos. A cultura científica do autor revela-se nos pormenores do texto mas, alguns dos dados apresentados não coincidem com o nosso conhecimento atual da lepidopterofauna existente no Pinhal do Rei. Assim, por exemplo:
- a espécie referida como Porthesia similis (E. similis) está, efetivamente, presente nesta área mas a descrição apresentada corresponde a uma outra espécie do género: Euproctis chrysorrhoea (Linnaeus, 1758);
- no que aos esfingídeos diz respeito, o autor omite a generalidade das espécies que temos encontrado e adiciona uma nova: A. convolvuli;
- ainda não nos foi possível confirmar a existência de qualquer saturnídeo no Pinhal. A. Pinto indica dois, referindo mesmo que a S. pavonia é relativamente comum;
- embora a distribuição de A. cardamines e de M. phoebe abranja a região da Marinha Grande, as espécies nunca foram avistadas desde que começámos a fazer um levantamento sistemático da nossa lepidópterofauna;
- o autor omite uma série de borboletas diurnas extremamente comuns na área do Pinhal: Maniola jurtina (Linnaeus, 1758), Lasiommata megera (Linnaeus, 1767), Pararge aegeria (Linnaeus, 1758), Leptotes pirithous (Linnaeus, 1767), etc.
À distancia que este estudo foi feito não me parece nada mal, acredito até que quanto ás omissões de borboletas diurnas , podem até algumas delas ainda não viverem nestas paragens que se vei transformando ao longo dos anos.
Um belo trabalho comparativo em tão pouco tempo, Carlos! Como diz o Aurélio não haverá a possibilidade de as espécies irem mudando ao longo do tempo? Penso que algumas outras espécies, nomeadamente mamíferos e aves quase desapareceram do Pinhal.